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Uma imprensa transnacional

Valéria Guimarães

As duas edições do curso "Desafios das transferências culturais: circulação de práticas e representações na imprensa do longo século XIX", ministrado pela professora Diana Cooper-Richet e que foi promovido pelo Programa Jovem Pesquisador FAPESP - As transferências culturais na imprensa na passagem do século XIX ao XX no CEDAP (UNESP-Assis) e no CEDEM (UNESP-SP) neste mês de outubro de 2012, com apoio da FAPESP e da UNESP, trataram de vários aspectos relativos à circulação da informação durante o século XIX.

Na primeira aula, Transferências culturais, circulação de ideias e práticas: o caso da França e do Brasil no século XIX, a professora defendeu a ideia de que é preciso concentrar-se na pesquisa empírica para depois lançar mão das ferramentas disponibilizadas pelas teorias existentes. Ela discutiu conceitos como transferências e mediadores culturais e destacou o papel destes últimos, sobretudo dos livreiros, para a efetivação da trocas de ideias em âmbito transnacional.

Na segunda aula, O papel das revistas na circulação das ideias: o exemplo das revistas britânicas, ela coloca em relevo a função dos suportes nestas trocas, em geral negligenciados frente à análise do conteúdo. Tomando como ponto de partida dois modelos matriciais de revistas de crítica literária, revistas britânicas como The Edinburgh Review e The Quarterly Review, a professora enfatiza que o pesquisador das transferências culturais deve observar atentamente os aspectos físicos do suporte - tais como tamanho, número de páginas, títulos, estilos, diagramação etc. - além do conteúdo em si.

Na terceira e última aula, As revistas em português publicadas em Paris na primeira metade do século XIX. Modelos para o Brasil?, Diana Cooper-Richet volta ao tema dos mediadores, sobretudo daqueles que permitem o desenvolvimento da imprensa estrangeira, como os editores. Usando como exemplo a existência de uma intensa atividade editorial em línguas diferentes do francês na Paris do século XIX - o que inclui desde o inglês (em maior número), o alemão, o espanhol, o português até o russo, o ídiche e muitos outros idiomas - demonstra que, para além de uma imprensa que represente grupos de imigrantes, existe uma imprensa de informação geral, tal qual o diário inglês publicado em Paris Galignani’s Messenger (1814-1890), que atinge não só o leitor da comunidade específica a que se dedica mas também o leitor parisiense. Ainda usa o exemplo da imprensa em português para comprovar que tais publicações, muitas vezes, têm como destino, igualmente, as colônias - e, no caso dos impressos lusófonos, atingir o público brasileiro constituía um de seus maiores objetivos.

De modo geral, a intenção desta especialista foi demonstrar a importância de se levar em conta a participação da imprensa estrangeira na formação de uma dada imprensa nacional, estando sua abordagem localizada em uma perspectiva precisa, seja ela a da Nova História Cultural.

As discussões ora propostas pela Pesquisadora Visitante tiveram resultado direto sobre o presente Programa Jovem Pesquisador, não só por dizer respeito ao tipo de pesquisa que tem sido realizado por seus pesquisadores, como pelo fato de propor uma reflexão que visa aperfeiçoar conceitos utilizados assim como sugerir, através dos exemplos, metodologias de trabalho.

Da mesma forma, levando em conta os cerca de cem participantes (entre alunos, pesquisadores e professores) que assistiram a seu curso, tais discussões não se mostraram apenas úteis aos participantes do projeto, mas são pertinentes a um campo que encontra cada vez maior espaço na historiografia brasileira, seja ela da História das Mídias, dentro da perspectiva da História Cultural.